terça-feira, 15 de janeiro de 2019

".../Toda a doutrina social que visa destruir a família é má, e para mais inaplicável. Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo final não é o indivíduo mas sim a família."
Victor Hugo

Escultura de Cris Pereby

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Una sombra donde sueña Camila O’Gorman y otros textos

Una sombra donde sueña Camila O’Gorman, es una acción de gracias, una interpretación de la historia que remite a los primeros principios, al saber posible de la palabra que deviene en lo propio, sin agotarse. Un cuerpo, inventario sin fin del deseo y de la muerte."- Molina Enrique
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Una sombra donde sueña Camila O’Gorman de Molina Enrique.
Racconto (mínimo)
Camila O’Gorman, nace en el Buenos Aires de 1840. Ladislao Gutiérrez es un tucumano, párroco de la iglesia del Socorro. Ambos se enamoran y, fieles a su amor, transgreden las normas. El 12 de diciembre de 1847 se fugan, para cumplir con la íntima necesidad de vivir juntos.
Rosas, a quien tenía sin cuidado el amancebamiento de algunos curas, no pudo tolerar la desobediencia hacia su persona. Al escándalo, se sumó el hecho de que la O’Gorman perteneciera a la alta sociedad.
Si bien Camila estaba embarazada, el gobernador ordenó el fusilamiento de ambos sin derecho a juicio. Un hijo hubiera representado la memoria del triunfo del amor.
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"Camila es la imagen de la poesía. Ella vive en el enajenado mundo del amor. Theodore Adorno habla de la pérdida de la dignidad del objeto que se reduce en lo profano absoluto, transformando así al arte en fetiche. Pero la técnica surrealista es un montaje de imágenes./... / Camila y Ladislao se yuxtaponen siguiendo el propio derrotero. La autodeterminación se desarrolla sin que suceda distracción ontológica alguna. Ellos son el medio con el que se corresponden. Transgredirlo significará desarmar la relojería eterna de los antepasados que permanece oculta..../.../La pasión y la imprudencia de Camila la ennoblecen, pero en cada instante del amor está el instante de la muerte..../...La esencia del hombre se reivindica en la función de ser en el ser. Para Molina solo existe la plena libertad del sueño. Ni terror ni éxtasis, solo el desplazamiento y la confrontación. La oscilación de una ceremonia extraña que se llama amor. El deseo transgrediendo el mundo profano en aras del orden sagrado.
Una sombra donde sueña Camila O’Gorman, es una acción de gracias, una interpretación de la historia que remite a los primeros principios, al saber posible de la palabra que deviene en lo propio, sin agotarse. Un cuerpo, inventario sin fin del deseo y de la muerte."- Molina Enrique
Molina Enrique, Una sombra donde sueña Camila O’Gorman y otros textos, Buenos Aires, Editorial Corregidor, 1997

Christy Keeney

"Pedir desculpa nem sempre significa que tu estás errado e que a outra pessoa está certa. Às vezes significa apenas que tu valorizas mais a tua relaçao que o teu ego"



                 Pintura de Christy Keeney - UK 
!!!

Palmesel | 15th century | German

Palmesel | 15th century | German

A palavra alemã Palmesel refere-se a estátua de Cristo em um burro, montado sobre uma plataforma com rodas, que fazia parte da procissão do Domingo de Ramos em muitas regiões de língua alemã até a Reforma.

Via The Metropolitan Museum of Art, New York
 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

As Quatro Últimas Canções de Richard Strauss


As Quatro Últimas Canções (em alemãoVier letzte Lieder) é um conjunto de obras para soprano e orquestra que estão entre as últimas peças de Richard Strauss, compostas em 1948, quando o compositor tinha 84 anos. A estreia ocorreu em Londres em 22 de maio de 1950, tendo por solista a soprano Kirsten Flagstad acompanhada da Philharmonia Orchestra, regida por Wilhelm Furtwängler. Strauss não viveu para ouvir sua obra apresentada. Poucos anos de sua morte, já havia se tornado um dos mais famosos ciclos de canções (lieder) do repertório lírico.
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As comoventes últimas criações de Richard Strauss, empacotadas como “Quatro últimas canções”, de 1948. Para soprano com acompanhamento orquestral, elas foram compostas poucos meses antes do falecimento do compositor e tratam justamente do tema da morte.
As quatro canções não foram pensadas como um ciclo. O que as liga? O tema da despedida, sem dúvida. O estilo também. Três delas usam poemas de Hermann Hesse, a outra um texto de Joseph von Eichendorff. Quando o editor de Strauss notou essas ligações e associou a temática à própria morte do compositor, não teve dúvida: mudou um pouquinho a ordem das canções e uniu todas em um ciclo. Ficou ótimo!
A primeira canção chama-se “Primavera” (sobre Hesse) e trata da despedida e da saudade. O tom geral é agridoce (apesar do início sombrio quando o texto fala da “cripta”), meio pastoral meio melancólico. A segunda canção, também sobre Hesse, é “Setembro”. Setembro é o fim do verão no hemisfério norte; a sensação das folhas caindo e do jardim verdejante que entra em decadência é quase visual. E quando a poesia menciona o último brilho de sol do verão, Strauss entra em “modo Puccini” por alguns segundos.
A terceira canção, “Indo dormir” (ainda Hesse), mantém a temática evidente do descanso eterno. É incrivelmente tocante em sua mistura de canção de ninar e despedida. O solo de violino é de cortar o coração – não, cortar não, fatiar em pedaços bem fininhos! Ô dó, ô dó!
O ciclo fecha com a canção que Strauss curiosamente compôs primeiro, “No pôr-do-sol”, sobre Eichendorff. O título já diz muito. Vou me abster de comentários, à excepção de um: a palavra-tema de todas as canções só é mencionada UMA VEZ no ciclo todo, e justamente é a ÚLTIMA coisa dita, suavemente: “morte”.


1. "Frühling"

("Primavera") (Autoria: Hermann Hesse)
In dämmrigen Grüftenträumte ich langvon deinen Bäumen und blauen Lüften,Von deinem Duft und Vogelsang.Nun liegst du erschlossenIn Gleiß und Ziervon Licht übergossenwie ein Wunder vor mir.Du kennst mich wieder,du lockst mich zart,es zittert durch all meine Gliederdeine selige Gegenwart!
Em cavernas sombrias
sonhei longamentecom suas flores e céus azuis,com seus odores e cantos de pássaros.
Agora você está reveladacom todo o brilho e adorno,inundada de luzescomo um milagre diante de mim.Você me reconhece novamente,você me atrai docemente,todos os meus membros trememcom sua bem-aventurada presença!
Composta em 20 de julho de 1948


2. "September"

("Setembro") (Autoria: Hermann Hesse)
Der Garten trauert,kühl sinkt in die Blumen der Regen.Der Sommer schauertstill seinem Ende entgegen.Golden tropft Blatt um Blattnieder vom hohen Akazienbaum.Sommer lächelt erstaunt und mattIn den sterbenden Gartentraum.Lange noch bei den Rosenbleibt er stehn, sehnt sich nach Ruh.Langsam tut erdie müdgeword'nen Augen zu.
O jardim está de luto.
A chuva cai fria sobre as flores.O verão estremece em silêncio,aguardando o seu fim.
Douradas, folha após folha caemdo alto pé de acácia.O verão sorri, surpreso e lânguido,no sonho moribundo do jardim.Muito tempo ainda junto às rosasele se detém, aspirando ao repouso.Lentamente ele fechaseus olhos cansados.
Composta em 20 de setembro de 1948


3. "Beim Schlafengehen"

("Going to Sleep") (Texto: Hermann Hesse)
Nun der Tag mich müd' gemacht,soll mein sehnliches Verlangenfreundlich die gestirnte Nachtwie ein müdes Kind empfangen.Hände, laßt von allem Tun,Stirn, vergiß du alles Denken.Alle meine Sinne nunwollen sich in Schlummer senken.Und die Seele, unbewacht,will in freien Flügen schweben,um im Zauberkreis der Nachttief und tausendfach zu leben.
Agora que o dia me cansou,
serão meus fervorosos desejos acolhidos gentilmente pela noite estrelada como uma criança fatigada.
Mãos, parem toda atividade.Fronte, esqueça todo pensamento.Todos os meus sentidos agoraquerem mergulhar no sono.E minha alma, sem amarras,deseja flutuar com as asas livrespara, na esfera mágica da noite,viver uma vida profunda e múltipla.
Composta em 4 de Agosto de 1948

4. "Im Abendrot"

("Evening") (Texto: Joseph von Eichendorff)
Wir sind durch Not und Freudegegangen Hand in Hand;vom Wandern ruhen wirnun überm stillen Land.Rings sich die Täler neigen,es dunkelt schon die Luft.Zwei Lerchen nur noch steigennachträumend in den Duft.Tritt her und laß sie schwirren,bald ist es Schlafenszeit.Daß wir uns nicht verirrenin dieser Einsamkeit.O weiter, stiller Friede!So tief im Abendrot.Wie sind wir wandermüde--Ist dies etwa der Tod?
Através de dores e alegrias,
nós caminhamos de mãos dadas;agora descansamos da nossa errânciasobre uma terra silenciosa.
Em torno de nós se inclinam os valese já escurece o céu.Apenas duas cotovias alçam voo,sonhando no ar perfumado.Aproxime-se, e deixe-as voejar.Logo será hora de dormir.Venha, que não nos percamosnesta grande solidão.Ó paz imensa e tranquilatão profunda no crepúsculo!Como nós estamos cansados dessa jornada -Seria talvez isso já a morte?
Composta em 6 de maio de 1948

Four Last Songs. Nº. 3. Beim Schlafengehen. Richard Strauss.


créditos: ADRIANO BRANDÃO e Wikipédia

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

I G N O R Â N C I A : : :: A miséria

I G N O R Â N C I A : : :: A miséria: Enquanto reteve a juventude no corpo, e mesmo algum tempo depois, o Zé do Portão violou a sua mulher Guida e esse acto reiterado tornou-se uma das rotinas sufocantes do pequeno Mário (na foto), agachado atrás do aparador de cartão da única divisão da casa, à espera de vez. Não de ser violado, sorte, mas de apanhar no focinho, como dizia o pai nos seus tempos áureos, focinho que no seu caso era uma cara clara e inocente para uns olhos claros e inocentes. Mário chorou tudo o que tinha para chorar até sair de casa. Fez um percurso honrado e não violou a sua mulher nem bateu no seu filho, e isso foi relativamente bom. Acabou por cair na mesma rotina dos homens da terra, que é chegar do trabalho e comer e sair de casa e beber cervejas no café enquanto se vê a Sport tv e se fuma falando alto ou cantando o karaoke, mas sempre moderou os seus instintos. Verdade que lhe apetecia rebentar a cara à sonsa que ainda se atrevia a criticá-lo por não ajudar em casa ou andar aos beijos com outras gajas ou jogar uns trocos no bingo ou assapar nas retas da praia. Verdade que queria esganar o puto quando ele se punha a berrar por tudo e por nada. Mas nunca o fez. Nem uma coisa nem outra. Era muito criticado pela mesma terra que ficou muda durante os anos em que apanhou do pai. A terra que consentiu as violações da mãe durante mais de trinta anos, até faltarem forças ao velho. Não, antes ainda, porque Mário, no dia do casamento, deitou a mão ao pescoço do pai e avisou-o de que dali em diante não tocava na velha. A terra deixou de ouvir choro, mas Mário não tinha a certeza se a velha tinha chegado ao consentimento lúgubre ou se faziam outras coisas porque lhes faltavam as forças para a violência. Verdade seja dita: Zé do Portão nunca usou objectos para agredir mulher ou filho. Era sempre com o punho redondo que a mão sapuda formava. Mário era criticado pela terra por gritar com o pai em plena rua, descompusturas violentas que envergonhavam a terra do seu próprio silêncio e Mário usava para não ter de matar o velho ou bater na sua própria mulher.

O velho era gordo quando era novo. Ficou magro, arraçado do que era. A mãe sempre tivera um vincado atraso mental. Agora a vida do velho é arrastar-se com as muletas, às vezes com a mulher no encalço a dar os passos pequeninos do atraso mental e a olhar no vazio. Não falam um com o outro. À semana ela mal sai de casa. O velho sai, mas anda com dificuldade e a arrastar os pés os dez metros que separam o portão vermelho do café. E foi isto que ficou a vida deles. O velho sai de manhã e fica calado no café, sem falar com ninguém. Ao Sábado, rigorosamente, passam os dois o princípio da tarde ao portão a ver os carros passar. Nunca falam um com o outro. Ao Domingo saem depois do almoço e andam cento e cinquenta metros até ao próximo cruzamento da terra e passam lá a tarde, de pé, a ver os carros passar. O Mário chega do trabalho e come e sai de casa e bebe cervejas no café enquanto se vê a Sport tv e se fuma falando alto ou cantando o karaoke. O Mário grita ao velho e toda a gente o critica na terra. Mas o Mário não faz caso, e tudo se sana depois de ele oferecer pancada. Às vezes é o Mário que apanha no focinho.  Focinho que no seu caso era uma cara clara e inocente para uns olhos claros e inocentes. E o Mário, se tivesse noção da sua miséria, era capaz de apostar que mais de metade das pessoas da rua tinha a vida que ele tinha. São as pessoas que dominam o mundo com o seu olhar pardo de desafio e dor. E um sangue espesso e escuro.

PG-M 2012
sobre factos sem ficção, por uma vez